Ao chegar á Quinta das Minas da Recheira, em Barco-Covilhã, onde está localizada uma antiga exploração mineira de Estanho e Volfrâmio, designada antigamente e vulgarmente por “Mina do Alemão“, que parou a sua laboração há mais de 50 anos, cujas minas estavam degradadas, abandonadas, esquecidas no tempo por todos…

…Respire fundo, pois…!!!

Vai se deparar com as minas recuperadas e limpas, podendo entrar pelas montanhas adentro, rodeada de mistérios e surpresas, regressar ao passado, desfrutar e deliciar-se com a observação da natureza das rochas, dos seus filões de quartzo com minerais, da grandiosidade dos buracos e escavações executadas, onde irá também encontrar a simulação de “manequins” vestidos de mineiros, a desempenhar as diversas funções mineiras, que se faziam há 50 anos, com os cenários e artefatos da época…

A natureza conseguiu juntar e proporcionar num mesmo espaço, uma grandiosa riqueza geológica, uma fértil riqueza natural, onde se pratica a agricultura, ter uma paisagem maravilhosa para Serra da Estrela e para o Vale do Rio Zêzere, com o qual a propriedade confina diretamente e é uma zona navegável, ter diversas e diferentes valências, como atividades mineiras, agrícolas, a domesticação de raposas selvagens, uma rica e abundante fauna e flora terrestre e fluvial, ecossistemas, biodiversidade, proporcionada pelo Corredor Ecológico do Rio Zêzere, transformado a quinta num Oásis natural a ser explorado!

Proporciona um inédito e diferenciador geoturismo, geocircuito, conhecer mais sobre a geodiversidade e mineração, sendo uma experiência única e aliciante, onde será possível conhecer a história das Minas da Recheira, a cultura mineira, a natureza e passar um dia muito relaxante.

A preservação e recuperação do património cultural mineiro destas minas e desta região estão representadas na panóplia da visitação às galerias e eventos mineiros, peças únicas, adquirir novos conhecimentos em termos lúdicos, didáticos e científicos, e contemplar o que homem e a natureza fizeram!

Bem-haja!

Muito Obrigado!

A quinta pertenceu à família de César Fernandes, que nos anos 40 descobriu por observação direta no terreno a existência de filões de minério de Estanho (Cassiterite) e Volfrâmio (Volframite), já no rescaldo da corrida ao Volfrâmio.

Ali perto, na Argemela, perdidos na memória dos tempos, romanos e mouros já tinham escavado o solo, à procura dos tesouros da terra.

No princípio dos anos 60 chegaram à Recheira os alemães, Walter e Karl Thobe.

Em 26 de Abril de 1962, KARL DIETRICH THOBE, de acordo com a Legislação Mineira, apresentou um “Manifesto Mineiro” para ficar registado, sob a forma de Certidão emitida pela CMCOVILHÃ, com o registo nº 5/62, em como descobriu por simples pesquisa e inspecção da superfície do terreno a existência de minérios de ESTANHO (Cassiterite) e VOLFRAMIO (Volframite), no sítio denominado RECHEIRA, freguesia de Barco, Concelho da Covilhã.

É efetuado um PLANO DE LAVRA do Jazigo denominado “RECHEIRA”.

Em 24 de Outubro de 1962 a sociedade Minas do Zêzere, S.A.R.L., depois de efetuar as pesquisas mineiras necessárias, solicita ao Secretário de Estado da Indústria, em relação ao Proc. nº 1014 do triénio 1961 – 1963, para se emitido o Alvará de Concessão Mineira, cujo nº da Mina da Recheira é 3361.

A inauguração destas minas foi em 1966 e a exploração das várias galerias minas encerraram em Novembro de 1971, tendo sido declarados nesse ano 2 toneladas de Estanho, foram 5 anos de exploração continua.

As Minas da Recheira fecharam porque as leis da economia são mais fortes que as regras do coração. Os filões de minério ainda brilham, no escuro das rochas da Recheira. Mas a cotação do estanho não justifica a exploração das minas. As pedras de fogo já não soam nas artérias da Recheira.

Depois de deixar de laborar na exploração das várias galerias mineiras, de 1971 a 1974 começaram a utilizar as infra-estruturas existentes para tratar do minério de ouro que vinham de uma mina de Coimbra pertencente à mesma Companhia.

Esta Companhia é concessionária e tem direitos de exploração de nove minas.
Num relatório datado de 1995 previa-se que a Mina da Recheira teria Lítio e o Ítrio, que fazem parte do conjunto dos metais de Alta Tecnologia.
A suspensão da Lavra ficou ativa até 1995, e em 1996 foi extinta a Concessão Mineira.

Na época, o acesso ao jazigo era efetuado por galerias mineiras e seus filões de quartzo com estanho e volfrâmio eram explorados em flanco de montanha, eram desmontados e avançavam através da execução de várias perfurações mecânicas de furos horizontais, na frente de ataque da galeria, executados por meio de martelos pneumáticos a ar comprimido com injecção de água, fornecido por um grupo moto compressor cujo motor funcionará a gasóleo, e depois eram colocadas cargas explosivas compostas por “gelamonite”, empurradas para dentro dos buracos com paus de madeira, que por vezes ficavam entalados, e com recurso a rastilhos e uma sequência de tiros programados, assim se avançavam com a execução das galerias mineiras.

Existem três chaminés de ventilação executadas para o efeito, ligadas à superfície.

A drenagem no interior das galerias foi efetuado por valetas drenantes com inclinação gravítica.

As cápsulas detonadoras de explosivos “gelamonite” ficavam guardados no “Paiol” preparado para 500kg de explosivos, que por sua vez era protegido por uma colmeia de abelhas, para não irem roubar!

A captação de água era efetuada por poço localizado junto ao Rio Zêzere, a água era usada em circuito fechado, através de uma série de tanques de decantação e água limpa para o pessoas e edificações.

Funcionamento do Diagrama da oficina de preparação de minérios extraídos (Conjunto da Lavaria e Secção de Apuramento) preparado para tratar de 5 toneladas/hora de material bruto, ou seja cerca de 2000 toneladas de “tout-venant” por 25 dias de trabalho a 2 turnos:

Os mineiros levavam as vagonetas com 500l, tendo por vezes locomotivas a diesel, através de carris para dentro das galerias e traziam-nas cheias de pedras, que seguiam o seguinte processo:

1- As pedras eram despejadas num ALIMENTADOR com grade de 25mm;
2- Passavam por um BRITADOR “BLAKE” de 9×15”, com 18,39 Kw
3- O minério que saía do britador entrava numa CORREIA TRANSPORTADORA, com 4 Kw;
4- Depois o minério entrava diretamente para um MOINHO DE ROLOS de 350x600mm, com 22 Kw;
5- Depois o minério entrava num SILO e CORREIA TRANSPORTADORA com 0,75 Kw;
6- Depois o minério entrava num CRIVO DE UMA TELA, com 2,9 Kw;
7- Depois o minério entrava num MOINHO DE ROLOS com 300 x 600mm, com 13 Kw;
8- Depois o minério passava em dois conjuntos de GIGA DE DOIS COMPRESSORES tipo “Pan American”, com 3 Kw cada, que trabalhava com redes de 1,5mm e camada filtrante de granalha de ferro a fim de eliminar algum estéril;
9- Depois o minério passava num HIDROCLASSIFICADOR;
10- Depois o minério passava por três MESAS TIPO “JAMES” com 1,1 Kw cada
11- E depois num CONE CALLOW e numa MESA DE LAMAS “HOLMAN”, com 1,1 Kw

Secção de Apuramento:

1- CRIVO de quatro Telas
2- MOINHO DE ROLOS
3- FORNO DE USTULAÇÃO
4- FORNO DE SECAGEM
5- SEPARADORA ELECTOMAGNÉTICA

O estéril das mesas, incluindo os da flutuação, juntamente com a rejeição que vinha da GIGA, ia para os tanques de decantação, aproveitando-se grande parte da água para o retorno no circuito. Os estéreis da Lavaria, eram depositados nos logradouros próximos, que entretanto ficaram com cobertura vegetal.

As escombreiras existentes têm pequenos volumes de estéreis, não apresentam sinais de instabilidade, não sendo macroscopicamente visível sulfuretos suscetíveis de contaminação.

A força motriz do accionamento de todo o complexo mineiro era efetuada por dois geradores de barco, de grande potência.

Após a paragem da laboração da mina, os mineiros que ali trabalharam é como se o tempo tivesse parado na Recheira, conservado pelo hálito gelado da boca das galerias minas.

Já no rescaldo da corrida ao Volfrâmio, os filões de estanho à superfície foram descobertos nos anos 40 por César Fernandes, antigo co-proprietário da propriedade e guarda das Minas da Recheira.

No cabeço da Argemela, perdidos na memória dos tempos, romanos e mouros já tinham escavado o solo, à procura dos tesouros da terra.

Apolinária Fernandes, antiga mineira das Minas da Recheira fazia versos sobre as minas, que transcrevemos como parte da história destas minas:

Ó Recheira do Zêzere // tantos anos esquecida // Estimada pelo senhor Walter // Que te dá tanta guarida. // Para os animais é um santo // Trata-os com muito amor // Nunca eles pensaram // Ter assim um protetor. // Adeus ó linda Recheira // Do senhor Walter o encanto // Se ele agora te deixasse // Desfazia-se tudo em pranto.

Já lá vem o senhor Walter // As minas inaugurar // Os filhos que o acompanham // Para a obra continuar // Aos senhores engenheiros // Um parabém queremos dar // Que nunca se arrependam // de connosco trabalhar.

As Minas do Zêzere fecharam em Novembro de 1971, porque as leis da economia são mais fortes que as regras do coração. Os filões de minério ainda brilham, no escuro das galerias das rochas da Recheira. Mas a cotação do estanho não justifica a exploração da mina. As pedras de fogo já não soam nas artérias da Recheira. Mas o coração da mina não parou. Foi o tempo que suspendeu a sua contagem, preso a uma memória mais viva e mais forte do que as leis da oferta e da procura.

Para se ter uma noção do tempo e do dinheiro, nem 1971, um almoço custava em média 20 escudos e 50 centavos.

As galerias nº 2 e nº 3 interligam-se e são formadas por uma rede de braços interiores labirínticos, que daria para se perder lá dentro, se não houvessem guias turísticos.

Para a família Fernandes, que trabalharam nas minas da Recheira, não foi apenas um modo de mudar de vida. Nas galerias da Recheira encontraram um sentido para uma vida parada no tempo, na aldeia do Barco.

A Mina da Recheira situa-se na União de Freguesias do Barco e Coutada, concelho da Covilhã e distrito de Castelo Branco e está enquadrada na Folha nº245 à escala 1/25.000 do Instituto Geográfico do Exército (figura 1).
Por estrada dista aproximadamente 18km do concelho do Fundão, 65km de Castelo Branco e 320km de Lisboa.
A topografia da região é geralmente acidentada e a cota da localização do jazigo é de 407m acima do nível médio das águas do mar.
Por se localizar num vale relativamente profundo, beneficia da passagem do Rio Zêzere e por algumas linhas de água secundárias de reduzida importância na área da Mina.
O terreno rochoso é arborizado maioritariamente por pinheiros e azinheiras.

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ENQUADRAMENTO GEOLÓGICO

GEOLOGIA REGIONAL

Na linha de conta do modo de ocorrência das mineralizações em W e Sn em Portugal, a “Província metalogenética estano-tungstífera Ibérica” (Neiva, 1944 e Thadeu, 1977 in Ribeiro & Pereira, 1982) estende-se a este do cisalhamento Porto-Coimbra-Tomar e a nordeste do carreamento da Juromenha. Com exceção dos jazigos ligados ao granito de St.ª Eulália (ZOM – Zona de Ossa Morena), os restantes situam-se na Zona Centro-Ibérica (ZCI), Zona Galiza-Trás-os-Montes (ZGTM) e Zona Astúrico-Ocidental-Leonesa (ZAOL) (figura 2). A província metalogenética estano-tungstífera de Portugal desenvolve-se por toda a região Centro e Norte onde os jazigos filonianos constituem, sem sombra de dúvida, os de maior importância económica. A ZGTM e ZCI diferenciam-se essencialmente pela ocorrência de mantos de carreamento de caráter alóctone e parautóctone na ZGTM.

No setor da Península Ibérica há a destacar fundamentalmente duas fases de deformação Varisca principais (F1 e F3). Assim, as estruturas formadas durante a fase F1 são caraterizadas por dobramentos de orientação predominante NW-SE, de plano axial vertical. São contemporâneas desta fase as dobras de grande amplitude e os cisalhamentos dúcteis. A fase F3 desenvolve-se segundo cisalhamentos dúcteis intracontinentais. Abrangeu os terrenos autóctones, parautóctones e alóctones, originando dobramentos largos e de pequena amplitude, de plano axial vertical e eixos sub-horizontais, segundo uma compressão NW-SE, associada a estes cisalhamentos.

A maioria das rochas aflorantes são granitos e xistos do “Complexo Xisto Grauváquico”. Em menor proporção ocorrem rochas do Pré-Câmbrico Superior, Ordovícico e Silúrico (Noronha, 1983). As relações de natureza geométrica e geoquímicas estabelecidas com as intrusões graníticas sin e tardi-orogénicas e a deformação evidenciada pelos preenchimentos dos filões permitem, regra geral, enquadrar a cronologia relativa dos diferentes depósitos na sequência de fenómenos desencadeados pela Orogenia Varisca (Schermerhorn, 1981).

O caso concreto das concentrações filonianas de Sn e W na ZCI pode considerar-se como sendo um exemplo de um encadeamento feliz de fenómenos, uns ligados à etapa magmática, outros à etapa hidrotermal e em que o binário granito-metassedimentos é indispensável à ocorrência da maioria dos jazigos (Noronha, 1983) (figura 3).

fig2
fig3

A ocorrência de depósitos de W-Sn está na maioria, direta ou indiretamente, associada a granitos, com tipologias diferentes, como por exemplo: aplitopegmatitos (Lagares de Estanho – Queiriga), filões intra e extra-batolíticos (Bejanca – Vouzela e Fonte Santa – Freixo-de-Espada-à-Cinta) e filões hidrotermais. Estes últimos os mais comuns e contribui para a maioria da produção de tungsténio no País (Goinhas, 1987 in Martins, 2012) (figura 4).
A distribuição das mineralizações hidrotermais de estanho e volfrâmio é muito vasta e obedece, para além dos alinhamentos paralelos aos da estruturação Varisca, à localização de afloramentos graníticos Variscos ou geralmente encontrados em auréolas de contacto metamórfico, reflexo da presença de granitos a pequena profundidade (Panasqueira, Argemela, Góis, Borralha, Vale das Gatas, Ribeira, Argozelo, entre outros).

fig4

As mineralizações tanto ocorrem na zona de contacto de granitos intrusivos e metassedimentos, como sobre a zona de contacto de granitos intrusivos noutros granitos mais antigos (Conde et al., 1971).
As principais ocorrências de W e Sn encontram-se condicionadas por estruturas herdadas dos cisalhamentos Variscos precoces ou tardios e por fraturas ligadas à instalação dos granitos pós-tectónicos (Noronha, 1999). Deste modo, sempre que ocorrem estas duas mineralizações, verifica-se um zonamento que segue a seguinte ordem: pegmatitos estaníferos e/ou filões quartzosos estaníferos, filões quartzosos estanho-volframíticos e filões quartzosos volframíticos (Thadeu, 1965).

GEOLOGIA LOCAL

O mapa geológico de Portugal à escala de 1:500.000 mostra o contacto entre o Complexo Xisto-Grauváquico do “Grupo das Beiras” e o Complexo Granítico Varisco do Norte de Portugal (figura 5). O “Grupo das Beiras” é formado por uma densa série de lentículas finas de origem marinha, de pelitos e arenitos, que sofreram depois metamorfismo regional de baixo grau (fácies dos xistos verdes) durante as fases iniciais compressivas da orogenia Varisca (Kelly & Rye, 1979).
Do ponto de vista geológico as formações sedimentares do complexo onde se enquadra a Mina da Recheira, pertencem ao Período Câmbrico a Pré-Câmbrico Superior, com idades compreendidas entre os 541 e os 485 M.a. (Conde et al., 1971).
Localiza-se na ZCI (Zona Centro Ibérica) no Complexo Xisto Grauváquico (CXG), mais propriamente no Grupo das Beiras.
Trata-se de uma região onde predominam formações sedimentares metamorfizadas, mas onde ocorre também grande número de manifestações eruptivas ácidas e básicas (Thadeu, 1951; Reis, 1971). Como exemplo, temos a ocorrência de uma estrutura dolerítica vertical de orientação N-S intersetada por trabalhos subterrâneos em duas das galerias. As formações metassedimentares são constituídas essencialmente por xistos argilo-gresosos que passam a quartzitos impuros e grauvaques. Estas rochas assumem formas lenticulares e irregulares, distinguindo-se, pontualmente, níveis constituídos pela alternância de finos leitos grauvacóides com outros xistos argilosos, de aspeto de fácies flyschóide.

fig5

MINA DA RECHEIRA – GALERIAS

O depósito da Mina da Recheira é composto por 5 Galerias, das quais 3 (Galerias nos 1, 2 e 3) apresentam ligações entre si através de travessas e de chaminés verticais, algumas das quais com ligação à superfície.
A Galeria nº 1 é a única que tem no seu ramo mais contínuo, direcção N30ºW e as restantes foram abertas segundo a direção N50ºE.
Todas as cotas que se mencionarão de seguida são sempre referentes ao nível médio das águas do mar.

CAMPO FILONIANO E MINERALOGIA

O jazigo é constituído por numerosos filões e filonetes de quartzo sensivelmente verticais, mas cujas inclinações podem variar até 60º de direcção média ENE-WSW a ESE-WNW.
Apresentam possanças que variam entre 2-20cm (figura 6) e encontram-se mineralizados por cassiterite e volframite, esta última em menor quantidade mas ambos como minerais principais de interesse económico, e por moscovite, quartzo e sulfuretos como minerais secundários sem interesse económico (figura 7).

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ESTRUTURAS ASSOCIADAS (FALHAS)

Do ponto de vista estrutural a área da Mina da Recheira é atravessada por inúmeras famílias de falhas. Deste modo há a destacar 3 famílias preferenciais de direcções: N-S, N20-40ºW e N20-40ºE e inclinações que variam entre 90º a 60º.
As suas possanças variam entre os 6cm e os 100cm, sendo que a média ronda os 40cm e o seu preenchimento é de componente argilo-siltos.
Há ainda a destacar a ocorrência de fenómenos de cisalhamento nalgumas das falhas observadas, como se pode verificar na figura 8. Normalmente este tipo de falhas provocam no filão um deslocamento também ele lateral que no caso específico da Mina da Recheira não ultrapassam os 40cm.

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INFRAESTRUTURA MINEIRA

Há a destacar alguns componentes das infra-estruturas principais, fundamentais numa exploração mineira, que na Mina da Recheira houve o privilégio de ficarem preservados.
Deste modo, as galerias nos 2 e 3 principalmente, mantêm essa identidade.
A existência de torvas de minério, ainda de madeira, permitia a passagem por gravidade do material desmontado na galeria intermédia, entre as galerias nos 1 e 2, permitindo simultaneamente a sua ventilação (figura 9).
Posteriormente, a instalação de carris nas galerias (figura 10), a uma cota inferior, permitiam o escoamento deste mesmo material para o exterior da Mina através de vagões. Era ainda comum nesta época a colocação de cruzamentos direccionais de carris (figura 11), que permitia o encaminhamento do vagão para o local pretendido.
Até à década de 70/80, era comum a prática do sustimento de blocos instáveis ou de zonas mais críticas através do suporte com pilhas de madeira e/ou simples escoras. Funcionava como método de entivação uma vez que a madeira era a matéria-prima mais barata e simultaneamente bastante funcional por ter a capacidade de absorver e distribuir grande parte da carga sobre elas exercidas (figura 12).
Finalmente, e não um dos aspectos de menor importância, é o emboquilhamento das Galerias de acesso principal. Para garantir o acesso em perfeitas condições de segurança, a entrada das 5 galerias foram reforçadas com recurso a betão armado e pequenos pedaços irregulares de xisto para preservar o enquadramento da área envolvente (figura 13).

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CARATERÍSTICAS GEOMECÂNICAS DO MACIÇO ROCHOSO

Atendendo às falhas geológicas intersetadas, e anteriormente descritas, o maciço rochoso é geomecanicamente estável.
Foram criadas todas as condições adequadas à estabilidade do maciço rochoso para uma boa circulação de visitantes no interior das Galerias, das quais se podem mencionar as seguintes: limpeza, escombramento, drenagem, iluminação, acessibilidades, vedações e passagens horizontais/aéreas (entre chaminés).

SERRADAARGEMELA3

O Cabeço da Argemela está catalogado como sítio arqueológico, com vestígios datado entre o final da Idade do Bronze e a Época Romana. CNS 14759 (DGPC).

Foi um povoado muralhado situado no topo de um cabeço com o mesmo nome, isolado e bem destacado sobranceiro ao Zêzere que corre a Norte. Trata-se de uma elevação de forma cónica destacada numa área de relevos acidentados conhecidos por Serra do Gomes. Apresenta um grande domínio visual sobre a paisagem.

Atualmente são visíveis duas linhas de muralha com derrubes de dimensão assinalável. A primeira linha nas cotas superiores do cabeço, no seu conjunto, num razoável estado de conservação. Bem visível é a sua destruição num pequeno troço a Nordeste, rasgado pela construção de um estradão que leva ao topo do cabeço. A segunda linha de muralha circunda também todo o cabeço, encontrando-se, contudo, um pouco mais descaraterizada.

A Norte e a Nordeste, a muralha encontra-se parcialmente destruída no topo, muito por força de um caminho que acompanha o seu percurso. A Oeste-Sudeste identificou-se numa extensão considerável uma interrupção da muralha (cerca de 80m). As muralhas revelam uma técnica de construção primitiva: blocos irregulares empilhados em pedra seca, ou seja, sem qualquer elemento de ligação ou consolidação, o que constitui factor de risco.

A matéria-prima utilizada é de proveniência local (xistos e granitos). Tendo em conta os materiais e as estruturas descobertas, Raquel Vilaça (Universidade de Coimbra) afirma que, para além de uma ocupação do Bronze Final, deverá ter sido também ocupado durante os séculos II e I a.c. As estruturas defensivas deverão estar relacionadas com esta ocupação tardia.

Raquel Vilaça dá ainda conta da presença de vários fragmentos de cerâmica manual grosseira onde se verificou um lábio inciso e um bojo decorado com linhas incisas paralelas. Apenas um fragmento de bordo é de fabrico ao torno. Entre o material lítico destaca-se o aparecimento de um molde múltiplo de agulhas, alfinetes ou varetas em bronze, um peso de seixo com entalhes laterais, diversos engenhos de moagem de moinho manual de vaivém e outro giratório, perfazem o espólio recolhido desde os anos 60.

Por todos os artefatos encontrados na área correspondente ao Castro da Argemela pode afirmar-se que se tratou de uma ocupação ainda no período Calcolítico.

Em 1991 a área do Cabeço da Argemela foi alvo de visita e identificação por parte dos arqueólogos que prospetavam uma área vizinha para florestação, ao abrigo Protocolo entre o IPPC / IPPAR e a Portucel para a Florestação.

Está em curso o processo de classificação do “Castro da Argemela” como Imóvel de Interesse Municipal, da Câmara Municipal do Fundão.

O Cabeço da Argemela com uma cota de 746m, dominante ao rio Zêzere, separa duas comunidades, Barco e Lavacolhos e dois concelhos Covilhã e Fundão.

Segundo a lenda, nesta serra, no tempo da ocupação romana “viveria neste local uma bela jovem destinada a casar com um dos chefes lusitanos próximo de Viriato. Os romanos raptaram a jovem, na véspera do casamento, torturaram-na para descobrir onde se encontravam as forças lusitanas. A jovem resistiu a tortura, mas os romanos implacáveis queimaram-na na fogueira. Diziam os habitantes locais, que próximo do local onde a rapariga teria sido queimada, era possível ouvir no ar gemidos. A origem do topónimo de Argemela deve-se à frase preferida por estas, “no ar geme ela””

A área denominada Argemela constitui um pólo de interesse mineiro com atividade comprovada desde os anos quarenta do século passado. Existem abundantes vestígios de antigas explorações mineiras de estanho, que terão tido início através da abertura de galerias (a três níveis nas cotas 522, 566 e 599) e o desmonte de vários filões à superfície.

Em 1956 os trabalhos mineiros foram incrementados com lavra a céu aberto e em profundidade (alargamento das galerias existentes e desenvolvimento de novas galerias), sob o controlo da Beralt Tin and Wolfram, Lda., através da sua participada EMAL (Empresa Mineira da Argemela). Foi então também montada uma lavaria e executadas sondagens de pequena profundidade, a maior das quais atingiu uma cota de 370 m. Foram explorados filões de quartzo subverticais com mineralização de estanho.

Os trabalhos pararam em 1961. Entre 1956 e 1961 foram produzidos 150 toneladas de Estanho (Sn), com uma recuperação média de cerca de 60%.
Já na década de 70, motivada pela deficiência de estanho em Portugal e a subida da cotação do minério, inicia-se nova fase de estudo da Mina da Argemela pela Direção Geral de Geologia e Minas.

No início de 1974 foi estabelecido um plano de trabalhos de prospeção geológica que levam ao levantamento cartográfico dos principais filões observáveis a céu aberto e na galeria principal da Mina. Em junho de 1975 é proposto um programa de sondagens, cumprido entre dezembro de 1976 e julho de 1979. Neste âmbito foram efetuadas três sondagens que tiveram comprimentos de 486, 451 e 586 metros. Os trabalhos efetuados permitiram confirmar a continuidade das estruturas mineralizadas a grande profundidade.

Faz-se pois notar que parte da área concessionada foi intervencionada entre 1945 e 1976, tendo-se explorado Estanho.

O conjunto mineiro da Argemela e da Recheira destacam-se duas ocorrências pela sua posição em relação ao projeto e ao seu valor cultural ou científico estão inventariados como Geossítios, também com interesse industrial e mineiro, e o chamado Castro da Argemela, situado no topo de um proeminente cabeço.
Relativamente ao Cabeço da Argemela a primeira referência encontrada, de cariz histórico – arqueológico, data de 1883. É da responsabilidade de Francisco M. Sarmento que o mencionou no seu relatório da Expedição Cientifica à Serra de Estrela em 1881.

Anos mais tarde Francisco Tavares de Proença volta a referi-lo no Ensaio de Inventário dos Castros Portugueses.

A área mineira da Argemela e da Recheira está incluída no Inventário de Geossítios de Interesse Nacional do Património Geológico Nacional sendo atribuído um valor científico de valor 36 numa escala 1 a 100.

Na Argemela e na Recheira podem ver-se afloramentos veios de quartzo e obras subterrâneas e na Recheira instalações de mineração bem preservadas.As minas da Argemela e da Recheira estão incluídas numa sequência flysch regional denominada “Xistos das Beiras”. Ao Norte e ao Sul do Microgranite da Argemela29 temos o granito biotitico porfídico pós-tectônico da Covilhã e Vale Prazeres, Idanha-a-Nova rodeado por uma aureola metamórfica de contato.

ACEITAMOS DE BOM AGRADO ANIMAIS DE ESTIMAÇÃO